DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
- Tendência Inclusiva
- 17 de out. de 2017
- 5 min de leitura
A educação permite acesso a informações.
A educação garante direitos, reforça os deveres.
A educação impõe limites morais e éticos.
A educação mantém o indivíduo em segurança.
A educação molda sonhos.
A educação traz dignidade.
A educação não é um objeto que pode ser adquirido em qualquer esquina, ela é uma construção e precisa de atenção, paciência, cuidado, pessoas dispostas.
O que muita gente não sabe é que dentro do espaço escolar, onde o conhecimento pedagógico é construído e repassado, muitos indivíduos, mesmo estando fisicamente ali, não conseguem se desenvolver e processar as informações de modo a produzir as ligações necessárias para a construção do conhecimento.
A deficiência intelectual, de acordo com a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento, consiste em funcionamento intelectual inferior à média (QI), associado a limitações adaptativas em pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho), que ocorrem antes dos 18 anos de idade.
Muitas vezes, a família não é a primeira a perceber os sinais dessas dificuldades, já que elas se acentuam nos momentos que exigem atenção, concentração e disciplina para aprendizagem, mas a escola logo entende a atipicidade daquela criança. Seja no desenvolvimento das atividades em grupo, ou no trato social que o aluno não tem, ou em uma agressividade excessiva e uma reação negativa aos NÃOS do dia a dia.
O maior problema nesse momento é a identificação do problema, a aceitação por parte da família e o processo de intervenções necessárias por parte da escola para que o direito a educação seja respeitado para cada criança. Não adianta perceber uma dificuldade e não interferir no desenvolvimento da criança sem a devida atenção.
Em muitos diagnósticos clínicos, o comportamento intelectual á atípico:
Autismo
Síndrome de Down
Comprometimentos ou ausência da fala
TDAH
Déficit de atenção
Hipertatividade
Síndrome de Tourret
Além dos mais de 400 transtornos de aprendizagem
As alterações intelectuais não são doenças, mas condições neurobiológicas fora dos padrões, o aluno não precisa de cura, ele precisa de compreensão, material adequado e terapias que o auxiliem na superação da dificuldade!
Mas e aí, esse diagnóstico limita o aluno?
“Se uma criança não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que ela pode aprender”. Marion Welchmann
Essa deve ser a premissa do educador e da escola ao olhar para esse aluno.
O laudo não determina o que o indivíduo consegue ou não consegue aprender. O laudo não determina a capacidade cognitiva dessa criança. As condições intelectuais atípicas existem em pelo menos 60% da população escolar do Brasil (Censo escolar 2016) e é preciso, enquanto escola e educadores, encarar essa realidade da maneira mais positiva possível, recebendo esses alunos, dando a atenção necessária e valorizando cada um dos seus esforços.
Qual é a importância do Laudo?
O laudo médico dá nome a uma dificuldade, orienta os profissionais em relação as terapias necessárias, mas ele não tem o poder de determinar até onde esse aluno pode chegar, tudo depende das pessoas que vão cruzar os eu caminho e o emprenho dos seus em ajuda-lo. Nada, nem o laudo, substitui o fator humano, o poder de transformação que um professor exerce sobre a vida de uma criança, sobretudo daqueles que possuem dificuldades diversas é extraordinário.
Hoje, em sala de aula, muitos são os alunos que apresentam variados transtornos de aprendizagem e atrasos intelectuais, mas não foram diagnosticados. Para esses alunos também é necessário debruçar nosso olhar. Por mais que ainda não exista uma determinação clínica acerca daquela dificuldade, a criança ainda precisa de ajuda, ela ainda está em sala de aula e segue sendo um cidadão de direito que tem garantido seu direito a educação de qualidade de uma maneira que seja capaz de suprir suas necessidades pedagógicas sem a expor ou constrange-la diante dos colegas e de si mesmo.
Por lei:
Lei Nº 13.146 de 6 de Julho de 2015 - Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia;
Durante o período que lecionei em escolas públicas e privadas de BH e RMBH, ouvi muitos absurdos em relação aos alunos com dificuldades e por consequência, com laudo clínico.
“Não se preocupe com esse aluno, ele tem laudo”.
“Esse aí é problemático, meio demente”.
“Para esse aluno que tem laudo você pode fazer só desenho para colorir”.
“A família dele é muito chata, quer que ele aprende de todo jeito, ainda não aceitou a doença dele”.
“Esse menino é muito difícil, mimado, sem limites e a família não aceita falar, insiste que o menino tem dificuldade, pra mim isso é pra chamar a atenção, só pode”.
Esse discurso é recorrente e vem de todos os lados. Não tem a ver com a escola pública ou privada, mas está ligado diretamente com o agente transformador que o professor deve ou deveria ser. Somente com a conscientização da escola e dos professores vai ser possível mudar o cenário complicado que estão inseridos os alunos que não se adequam nesse modelo padrão de aprendizagem. A escola clama por um olhar mais humano, um olhar que transforma e valoriza os esforços do aluno para se superarem todos os dias. Muitas vezes, durante momentos de discussão sobre o assunto, é comum ouvir: “Mas eu não tenho pós-graduação, não tenho Mestrado nem doutorado, não sei nada sobre transtornos de aprendizagem e deficiência, não posso ajudar essa criança”.
A minha resposta é sempre a mesma:
- Mas e o fator humano? Seja somente o professor e deixe que esse aluno te surpreenda cada dia, olhe para ele como um ser humano dotado de capacidades incontáveis e que só precisa de atenção para desabrochar. Façam valer o poder de transformação que cerca o professor e usem do olhar heroico que cada aluno olha pra você.
Mais importante do que o laudo, mais importante do que os títulos de especialização é:
O SER HUMANO QUE É O PROFESSOR E O SEU PODER DE TRANSFORMAÇÃO!
O PROFESSOR MUDA O RUMO DA VIDA DE UMA CRIANÇA.
O PROFESSOR VIRA O HERÓI DE UM ALUNO.
O PROFESSOR INCENTIVA, INSPIRA.
O PROFESSOR SONHA JUNTO.
O PROFESSOR DESPERTA TALENTOS!
Mesmo com várias dificuldades, sem uma nomenclatura clara do que ocorre com o aluno, com atenção, cuidado e carinho é possível. Eu acredito nisso e luto todos os dias para que todos acreditem também!
Por outro lado, sabemos da estrutura do nosso sistema educacional e das dificuldades extremas enfrentadas pelas escolas e seus atores, mas esse é assunto para uma próxima conversa!
Vem com a gente, vamos juntos!


Tatiane Teixeira Alves é Socióloga, formada pela Universidade Católica de Minas Gerais. Pós graduada em Psicopedagogia Clínica, Educação Inclusiva e comunicação Assistiva pela Universidade Cândido Mendes . Sócia fundadora da Assistiva – Acompanhamento Educacional especializado que oferece o apoio pedagógico para pessoas com necessidades educacionais específicas, sob a premissa de que “Se uma criança não consegue aprender da maneira que está sendo ensinada, é preciso mudar o método de ensino para que ela aprenda”.
Comments