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DIAGNÓSTICO DE AUTISMO E OS MECANISMOS DE DEFESA: NEGAÇÃO

  • Foto do escritor: Tendência Inclusiva
    Tendência Inclusiva
  • 27 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Substantivo feminino 1. Ato ou efeito de negar 2. O que se nega, o que não se admite como verdade; negativa. (Dicionário Aurélio)

A negação é um mecanismo de defesa. Se eu não penso sobre algo evito o sofrimento de ter que lidar com isso. O preço a pagar pela negação pode ser alto, tanto na carga psíquica que tenho que liberar para manter este processo tanto quanto tanto isso pode afetar diretamente o outro. (Anna Freud)

No caso de negação do diagnóstico de uma criança isso pode custar a ela a própria vida. Pais que negam a condição de um filho não conseguem dar a ele o suporte (tratamentos) necessário para o seu desenvolvimento.

Sim, eu tive minha fase de negação. Pedro tinha sinais sutis de autismo, mas não se encaixava no que eu conhecia sobre autismo. Ele não olhava nos olhos, não respondia quando era chamado, não falava mais que quatro palavras, não apontava, tinha baixa tolerância às frustrações, não entendia as regras, não interagia como deveria, nos usava como objeto... mas ele não tinha movimentos repetitivos, não ficava absorto em seu próprio mundo; ele até interagia, a seu modo, a fala podia ser uma questão de genética já que na minha família tínhamos muitos casos assim, ele ainda era muito pequeno, podia ser que com o tempo melhorasse... Pensava que ele devia sim ter “alguma coisa”, afinal o desenvolvimento não estava sendo como o esperado para a idade, mas autismo definitivamente não era. É insano pensar que eu busquei respostas para minhas angústias por anos e, quando ela chegou, não consegui aceitá-la. Talvez porque lá no fundo a verdade era a última coisa que eu queria ouvir. “Seu filho é autista”, foi o que o especialista disse. “Bem-vinda ao clube”, disse uma mãe em uma rede social para mim assim que desabafei em um post. Não, não e não. Eu neguei. Neguei por um tempo, pouco tempo. Neguei porque apesar de amar meu filho eu sou humana. Eu tenho o direito de sentir dor, de chorar, de não aceitar, de me revoltar contra Deus, de me permitir sentir. Porém, no meio desse processo de negação, me veio à mente um desses ensinamentos que aprendemos ainda crianças: “o seu direito termina quando começa o direito do outro”. O meu direito de sofrer podia tirar o direito do meu filho de viver? O meu sofrimento me dava o direito de negar a ele as ferramentas de que ele necessitava para ter uma vida plena? Negar é humano porque sofrer dói, mas não podemos, por maior que seja a dor, negar a um filho o que ele precisa. A negação não pode ser maior que o amor.

Então chega a hora de acordar, secar as lágrimas, agir. A vida não espera e o tempo, há, o tempo... O tempo passa a ser o maior inimigo de uma mãe quando tem o diagnóstico de autismo de um filho. “Até os seis anos os resultados são mais garantidos”, está escrito nos livros, em todo o lugar. A plasticidade cerebral é melhor até os seis anos de idade; depois disso, tudo é mais difícil. É preciso correr... não há “tempo” a perder. A vida é feita de escolhas e era a hora de fazer a minha. Escolhi olhar para frente. Era a hora de ajudar o meu filho com suas dificuldades e para isso eu precisava entendê-las, saber como elas o afetavam. Era preciso conhecer sobre elas, estudar. A essas dificuldades, em 1943 o pediatra e psiquiatra austríaco, Leo Kanner, deu o nome de autismo. A meu filho, dei o nome de Pedro Miguel.


imagem retirada da internet

Michelle Malab

Michelle Malab foi diagnosticada com Síndrome de Asperger já na fase adulta, anos após ter tido o diagnóstico de seu filho Pedro. Com o filho diagnosticado, deparando-se com a falta de tratamentos eficazes e poucos profissionais capacitados na área começou a estudar sobre a síndrome, tornando-se co-terapeuta no tratamento do filho. Durante anos de estudo passou administrar palestras sobre autismo e organizar seminários sobre o tema, trazendo os melhores métodos e tratamentos que visam dar às pessoas com autismo as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento. Autora do livro Na Montanha Russa - Vivendo a maternidade no Autismo. É militante na luta pelos Direitos das Pessoas com Autismo e, em particular, no que se refere a inclusão escolar efetiva e humanizada. O autismo do filho acabou por lhe trazer também um conhecimento sobre si mesma.

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