A MÃE DO AUTISTA
- Tendência Inclusiva
- 26 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Quando nos tornamos mães ocorre quase que instantaneamente uma quebra em nossa identidade. Não somos mais a mesma pessoa de antes, temos que abrir mão de alguns desejos, rever prioridades que passa a ser as prioridades do bebê. Simples tarefas como fazer uma refeição sentindo o sabor da comida e tomar um banho demorado passam a ser objetos de sonho. Temos que nos afastar temporariamente do emprego ou em alguns casos até mesmo adiar a volta ao mercado de trabalho. São situações temporárias na vida de toda a mulher que se torna mãe, afinal, tem um "serzinho" ali que requer cuidados. Mas... e quando esses cuidados se estendem um pouco mais ou muito mais além do tempo previsto. E... quando se é “mãe de autista”?
Ouvi essa expressão pela primeira vez quando meu filho Pedro foi diagnosticado. Não, não foi em nenhum consultório de nenhum profissional. Foi quando comecei a ter contato com outras mães, que assim como eu, tiveram seus filhos diagnosticados com autismo. E era um tal de meu autista pra lá, meu autista pra cá.
Quando se tem um filho com autismo, a mãe também começa a ser rotulada, lhe retirando então sua identidade mais uma vez. Ela antes, apenas mulher se torna agora não apenas a mãe, mas a “mãe do autista”.
Perder a identidade é se afastar dos objetivos traçados, é perder os sonhos. É se esquecer de aonde se veio e não planejar mais para onde vai.
Não, não sou a “mãe do autista”. Sou a “mãe do Pedro”. O autismo faz parte dele, faz parte de mim, pois assim como ele também sou diagnosticada, mas não nos define. Quero olhar para o eu filho com um olhar sem véus e poder ver nele a garra, a força, a superação e toda a beleza, que faz dele uma pessoa especial no sentido do SER.
Eu confesso que os rótulos me incomodam, aliás me incomodam muito.
Quando rotulo eu contamino o meu olhar. O rótulo faz com que eu olhe para a pessoa ou situação sobre o ponto de vista que eu criei e não da realidade da outro. Me faz ver limitações onde há potencialidades.
O rótulo é algo cruel e definitivo que como um carimbo marca uma existência. Sucesso ou fracasso. Feio ou bonito. Capaz ou incapaz. Não, definitivamente, rótulos não são bons.
Rotular é me permitir a não me surpreender mais. E eu quero ser surpreendida, SEMPRE!


Michelle Malab foi diagnosticada com Síndrome de Asperger já na fase adulta, anos após ter tido o diagnóstico de seu filho Pedro. Com o filho diagnosticado, deparando-se com a falta de tratamentos eficazes e poucos profissionais capacitados na área começou a estudar sobre a síndrome, tornando-se co-terapeuta no tratamento do filho. Durante anos de estudo passou administrar palestras sobre autismo e organizar seminários sobre o tema, trazendo os melhores métodos e tratamentos que visam dar às pessoas com autismo as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento. Autora do livro Na Montanha Russa - Vivendo a maternidade no Autismo. É militante na luta pelos Direitos das Pessoas com Autismo e, em particular, no que se refere a inclusão escolar efetiva e humanizada. O autismo do filho acabou por lhe trazer também um conhecimento sobre si mesma.
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