EXÉRCITO DE BARBIES
- Tendência Inclusiva
- 10 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Há algum tempo atrás eu escrevi um texto de como me sentia um peixe fora d’água em certas rodas de conversa em que mulheres marcavam plásticas como quem marca manicure ou depilação. Elas tinham nomes e telefones de cirurgiões plásticos e agendavam tudo junto com férias ou feriados para terem tempo de se recuperarem e tratavam as plásticas como meros procedimentos estéticos. Isso sempre me assustou muito porque – nada contra plástica, afinal, ela ajuda muita gente a restabelecer a autoestima – mas a forma como ela vem se banalizando é assustador.

Durante muito tempo esse assunto fugiu um pouco do meu cotidiano, talvez por frequentar outras rodas de conversa e por várias pessoas interessantes terem entrado na minha vida. Mais homens, possivelmente.
Mas outro dia, em um evento de moda, ela voltou à tona e percebi que a busca obsessiva pela beleza está passando, sim, dos limites. Agora as mulheres trocam whatsapp dos cirurgiões e agendam não só uma, mas as varias plásticas ou procedimentos – como botox – que serão feitas durante o ano, como quem marca uma limpeza de pele ou uma maquiagem. Acho que o botox está substituindo a pele boa pós sexo.
E eu continuo me sentindo um peixe fora d’água por que nunca fiz uma cirurgia plástica. Não por não precisar, afinal, o precisar nesse caso é o de menos. Talvez por medo de complicações ou por me aceitar melhor depois dos 40. Me lembro que quando era mais nova, cismei com o o meu nariz e fui consultar um grande amigo e também grande cirurgião a respeito de como era feito a plástica nessa área.

Depois da explicação detalhada e dolorosa- senti os ossinhos do meu nariz sendo quebrados- desisti. Muito tempo depois, estava em uma loja na Savassi e uma mulher, que havia acabado de fazer uma plástica no nariz, chegou perto de mim e disse:
-Meu sonho era ter um nariz igual ao seu!
Fiquei tão impressionada com aquela mulher,com nariz enfaixado ainda, olhando para algo que eu cheguei a não gostar e invejando, que dei graças a Deus por nunca ter mexido no meu nariz, que segundo a minha mãe, é o que mostra a nossa personalidade. Fora outras partes do corpo que cismam em aumentar e diminuir de acordo com hormônios, estado de espírito e idade. Mas amo a minha imperfeição. Toda ela.
E acredito que uma cirurgia é algo sério e até mesmo perigoso e deveria ser encarada como tal. Mulheres que perderam as mamas devido ao câncer, pessoas com problemas de pele como a queimaduras, ou até mesmo uma baixa auto estima gerada por excesso de peso, tudo isso justifica uma intervenção mais séria. Mas buscar algo fútil não me convence. Até porque a maioria das mulheres que querem fazer plásticas já são lindas.

Será que uns centímetros a menos de cintura ou alguns mililitros a mais nos seios merecem o risco? Vão te fazer mais feliz? Será que a beleza justifica tudo? E que beleza é essa que é feita e copiada em cima de padrões malucos? Estamos formando um exército de Barbies, com longos cabelos louros, grandes seios, impossíveis cinturas e narizes sem personalidade. Pelo menos quem fabrica a Barbie já se tocou e está saindo desses padrões. Alguns estilistas também já se tocaram e já vi alguns desfiles de moda com modelos não tão altas, cheias de curvas, algumas mais velhas e com alguns quilinhos a mais. Mulheres lindas, que desfilam corpos reais e sorrisos plenos, sem essa busca louca pela beleza e juventude. Só falta o mundo real imitar a arte. Afinal, não dá mais para conviver com o vazio.

Carol Meyer é Escritora, designer de joias, consultora de imagem e marketing pessoal, produtora de moda e pós graduanda no curso Design de Moda do SENAI CETIQT. Consultora da coluna da Anna Marina do jornal Estado de Minas, além de participar de especiais de produção e temas no Caderno Feminino, dentre outros jornais e revistas; jurada de vários concursos de moda e beleza das principais faculdades de Minas; palestrante de empresas, órgãos públicos e faculdades de Minas. Presta assessoria de figurino para shows e filmes e é criadora e administradora do Dicas da Carol, que hoje também está no Portal UAI.
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