A ESCOLA... HA, A ESCOLA!
- Tendência Inclusiva
- 26 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Foi durante uma reunião na escola. Eu estava saindo de meu isolamento com o anúncio do término da reunião, voltando do mundo do vazio para onde sempre viajava durante aquelas duas horas em que algumas mães vangloriavam de seus mini Einsteisn e outras se queixavam porque seu filhos de seis anos de idade ainda não conseguiam ler em hebraico. Não as culpo. A realidade delas era diferente da minha assim como as expectativas. Eu daria uma festa para 100 pessoas se meu filho conseguisse escrever o próprio nome. Pois bem, de volta ao mundo real e ainda sob o impacto dos ruídos que preenchiam a sala quando alguém vem falar comigo.
Era a mãe de uma menina, aliás uma menina linda de quem Pedro gostava muito. A mãe então vem toda sorridente, ela era do grupo das mães dos “mini Einstein” e me comunica que a filha iria dançar a quadrilha com o Pedro. Ela explica em detalhes que Pedro estava sendo disputado por todas as meninas da sala e que foi feito um sorteio e que a filha havia saído vencedora. Se você esta lendo este artigo, com certeza, pode imaginar o quanto meu coração se encheu de orgulho naquela hora, saber que seu filho estava sendo aceito e amado é algo que não tem preço. Pedro sempre foi bonito e muito carismático, sempre atencioso com todos, requisito básico para conquistar o sexo oposto.
Ela contava entusiasmada como numa narrativa, sempre gesticulando muito e soltando algumas risadas sobre os detalhes da escolha e no monólogo (pois não abria espaço para eu falasse) sempre tecia elogios à filha e em um destes:
- Estou muito orgulhosa da Fernanda (nome fictício), pois ela é tão detalhista, tão perfeccionista e ao querer Dançar com seu filho ela me prova que também é um ser humano incrível.
Neste momento eu senti um soco no estômago, uma sensação indescritível. Não podia acreditar no que estava ouvindo, fiquei tão perplexa que não consegui responder, a única coisa que consegui fazer foi tomar o avião de volta ao mundo do qual fui retirada no termino da reunião.
É interessante como que o termo “inclusão” é tão complexo, talvez por isso seja tão controverso. Nunca me senti “incluída” nas escolas por onde meu filho estudou. Minhas demandas eram diferentes das outras mãe, meus “fogos de artifício” eram outros, minhas colocações sobre meu filho sempre eram respondidos com “mãe, o caso do seu filho é a parte, podemos tratar no particular”....
Sim, claro, os pais das crianças “normais” não precisavam ouvir o que eu tinha a dizer sobre meu filho que não era “normal” não é mesmo?
Nessas horas eu me dava conta que se eu que era uma adulta era tratada assim como tratavam meu filho que era uma criança que não sabia se expressar? Quando as escolas se dizem “inclusivas” qual o entendimento deste termo elas tem na verdade? No fim, as famílias também são excluídas do processo. Mesmo com todos os percalços sempre acreditei e lutei pelo direito do meu filho em estudar em uma escola regular, por seu direito de crescer com seus pares, de aprender com eles. Quando pensamos em uma sociedade inclusiva devemos ter em mente sempre a diversidade, incluir é conseguir viver e respeitar as diferenças.
Certa vez Pedro, já com seus onze anos, me perguntou porque ele era diferente dos outros meninos. Uma pergunta muito difícil pra mim.
Peguei uma das minhas mãos e perguntei a ele quantos dedos tinham.
- Cinco, respondeu.
- E algum deles é igual? Tem o mesmo tamanho?
E com a resposta negativa dele pude concluir minha explicação:
- Meu filho, assim como os dedos das mãos não são iguais, as pessoas também não são. Cada uma tem suas características próprias, ninguém é melhor ou pior que ninguém, somos apenas diferentes.

Ouça a leitura do texto acima com Viver Eficiente!

Michelle Malab é foi diagnosticada com Síndrome de Asperger já na fase adulta, anos após ter tido o diagnóstico de seu filho Pedro. Com o filho diagnosticado, deparando-se com a falta de tratamentos eficazes e poucos profissionais capacitados na área começou a estudar sobre a síndrome, tornando-se co-terapeuta no tratamento do filho. Durante anos de estudo passou administrar palestras sobre autismo e organizar seminários sobre o tema, trazendo os melhores métodos e tratamentos que visam dar às pessoas com autismo as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento. É militante na luta pelos Direitos das Pessoas com Autismo e, em particular, no que se refere a inclusão escolar efetiva e humanizada. O autismo do filho acabou por lhe trazer também um conhecimento sobre si mesma.
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