TECNOLOGIA ASSISTIVA
- Tendência Inclusiva
- 29 de dez. de 2016
- 4 min de leitura
Tecnologia Assistiva é a mais nova coluna da Dra. Maria Aparecida Ferreira de Mello que é Pós Doutorada em Ciências da Reabilitação Florida University e Coordenadora Geral da Technocare.
Nesta coluna você, leitor, poderá conhecer e tirar suas dúvidas sobre as necessidades de pessoas com deficiência motora e mobilidade reduzida.

No artigo de hoje falaremos porque é necessário uma avaliação específica para identificar qual é o melhor sistema de mobilidade sentado para cada usuário de cadeiras de rodas.
O atendimento às necessidades das pessoas com sequelas das deficiências motoras sejam elas por causas genéticas, doenças ou por trauma, é uma questão de saúde pública. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010) revelam que 23,9% da população brasileira são acometidas com algum tipo de deficiência, cerca de 7% com deficiência motora. Para o desempenho das atividades de vida diária, para a preservação da autonomia, a acessibilidade e mobilidade, pessoas com deficiências físicas com sequelas que comprometem a mobilidade para deambular, necessitam do uso de cadeiras de rodas.
Com o avanço das tecnologias, em especial a Tecnologia Assistiva para as pessoas com deficiência motora, os benefícios que o uso de cadeira de rodas indicadas de acordo com o grau de funcionalidade do usuário está mais do que comprovado. Essa indicação específica propicia potencializar a mobilidade, autonomia, segurança clínica, garantindo o bem estar e conforto ao usuário com deficiência, bem como de seu cuidador , além de prevenir complicações futuras. Esses benefícios podem se traduzir na efetiva inclusão social desses usuários e possível engajamento dos mesmos em atividades educacionais e econômicas produtivas.
No Brasil existem diversas marcas de cadeira de rodas manuais e motorizadas, cada uma com sua especificidade, sem falar que em um mesmo chassi, há possibilidade de diversas configurações. Ao prescrever uma cadeira de rodas, o profissional de saúde responsável (médico, fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional, segundo a legislação brasileira) deve realizar uma avaliação minuciosa das necessidades do usuário, levar em consideração a seqüela motora, as atividades de vida diária, a autonomia e funcionalidade, aspectos do ambiente de uso do equipamento, análise das atividades a serem desempenhadas com o uso da cadeira de rodas, objetivar o menor esforço físico do usuário, a redução do risco de possíveis acidentes no manejo da cadeira, e redução de danos funcionais ao usuário relacionados ao uso da cadeira de rodas.

O design das rodas da cadeira de rodas e de seus acessórios deve propiciar ao usuário a redução do esforço físico e motor de membros superiores na condução da cadeira de rodas, reduzirem o risco de lesões de membros superiores pelo over use, quadros álgicos, além de promover maior autonomia, segurança, funcionalidade, acessibilidade e o transporte.
A visão atual do “seating*” trata de identificar as necessidades de adequação postural dinâmica, em um olhar funcional, de forma a buscar o equilíbrio entre a necessidade de correções ou acomodações posturais de forma a maximizar a função.
O avanço do conhecimento nessa área evoluiu tanto, que há uma tendência em administrar as vicissitudes posturais por posicionamento do maior ponto chave postural que é o quadril por meio do uso de almofadas de posicionamento e excelência distribuição da pressão, além do uso das inclinações ântero-posteriores e látero-laterais do sistema inteiro (“tilt” ântero-posterior e látero-lateral), minimizando o uso de cintos de posicionamento.
E como funciona o Atendimento Especializado para Prescrição de Cadeira de Rodas e Adaptações para Adequação Funcional/Postural que citamos acima?
O Atendimento Especializado para Prescrição de Cadeira de Rodas e Adaptações para Adequação Funcional/Postural ( Seating and Positioning ) é o conjunto de ações que permitem identificar de forma individualizada, de acordo com as necessidades de cada pessoa, um sistema composto de assento, encosto e uma base móvel para aqueles indivíduos que passam a maior parte do seu tempo assentado e que dependam desse sistema para mobilidade, mesmo que seja somente para longas distâncias.
Melhorar o nível funcional de um indivíduo oferecendo-lhe um sistema de seating* estável significa melhorar as funções fisiológicas do usuário de cadeiras de rodas que são afetadas pela postura (respiração, digestão, função cardiovascular – integridade da pele); melhorar sua mobilidade (auto-propulsão ou acessibilidade às cadeiras motorizadas), sua comunicação (verbal ou não verbal – visual, gestos, expressões faciais ou acesso a computadores), possibilitar melhor interação com o meio ambiente: na alimentação, na higiene, no vestir-se, nas atividades vocacionais e no lazer; melhorar os aspectos sociais-emocionais (conforto e auto conceito – a percepção do usuário de si e a percepção dos outros do usuário).
Como isso percebemos benefícios esperados para o usuário que não são poucos!
Normalização ou diminuição da influência de tônus anormal e atividade reflexa.
Facilitação dos componentes do movimento normal na sequência desenvolvimental.
Manutenção do alinhamento corporal, manuenção das amplitudes de movimento dentros dos parâmetros funcionais, controle ou prevenção de deformidades ou contraturas musculares.
Prevenção de úlceras por pressão.
Aumento do conforto e tolerância da postura desejada.
Diminuição da fadiga.
Melhora das funções respiratórias, oral-motora, circulatória e digestiva.
Maximização da estabilidade para aumentar a função.
Facilitação da provisão de cuidados (alimentação, higiene, etc.)
São muitos benefícios, mas quem precisa dessa avaliação/indicação personalizada do sistema de mobilidade sentado? E quem realiza essa avaliação?
Todos os indivíduos usuários de cadeiras de rodas ou outros sistemas de mobilidade sentado (scooters, carrinhos, etc).
Essa avaliação é realizada por especialistas em mobilidade sentada, que podem ser Terapeutas Ocupacionais, Fisioterapeutas ou Médicos. Na rede de serviços do SUS, esse procedimento é realizado nos locais que fazem a dispensação de órteses e próteses; na rede privada há serviços especializados.

*Sistema de Seating : conjunto da cadeira de rodas com todos os acessórios + almofada + encosto
Espero ter esclarecido pontos de extrema importância para estes indivíduos, mas caso tenha alguma dúvida ou sugestão basta enviar um e-mail que esclareceremos.
Até a próxima!

Maria de Mello é Pós Doutorada em Ciências da Reabilitação/Tecnologia Assistiva/Saúde da Pessoa Idosa, Coordenadora Geral da Technocare e Coordenadora de Educação e Pesquisa do CIAPE.
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