SURF ADAPTADO
- Tendência Inclusiva
- 25 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
A surfista Maria Izabel Rodrigues Alves nasceu e foi criada no Rio de Janeiro. Bel Bebel, como é graciosamente conhecida, também é professora e dançarina. Sua trajetória de luta começou em 2010, quando após uma queda, foi submetida a uma cirurgia de Cisto Aracnóide Torácico. Enquanto ainda se recuperava, passou por mais um momento difícil: sofreu uma nova queda e, após vários exames foi diagnosticada com Paraplegia Irreversível (Lesão Raquimedular).
Segundo Bel Bebel, no primeiro momento houve uma grande dificuldade em aceitar que a partir dali passaria a vida sentada em uma cadeira, dependendo dos outros para tudo. A atleta entrou em um período de forte depressão que só foi amenizado quando conheceu a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Na ABBR, a atleta foi convidada por uma colega da fisioterapia para participar de uma vivência de surf adaptado. A princípio, Bel Bebel não entendia em que essa atividade poderia ajudá-la, uma vez que só pensava em voltar a andar. Depois de vários convites, a atleta se rendeu e resolveu participar de uma aula. Ela conta que no início ficou só olhando, mas, com o decorrer do tempo, começou a gostar. “Sentia uma sensação boa olhando o mar”, afirma. Após dar um mergulho, sentada na cadeira anfíbia, começou a se deixar envolver pelo acolhimento dos professores e amigos. “Contava os dias para ir a aula e me integrar ao grupo. Adorava passar da cadeira para a prancha e ser levada pelo professor até determinada distância, depois sentir a sensação de ser carregada por uma ondinha”, relembra. Nessa época, Bel Bebel começou a ter mais independência, tocando sua cadeira totalmente sozinha. Já não faltava a nenhuma aula.

Quando começou a perceber que era capaz de manter o equilíbrio sobre a prancha, Bel Bebel ficou muito emocionada. “Estava focada nisso; queria chegar até a areia”, conta. Nem sempre era possível, mas ela comenta que achava o máximo receber elogios, tirar fotos com os amigos e estar em um ambiente tão amigável e acolhedor.
"A cada dia aprendo mais, e digo que o Surf na minha vida serve para reabastecer minhas energias. Me sinto renovada. Quando entro, não tenho vontade de parar, fico em busca de uma onda perfeita. É uma adrenalina!", conta eufórica.
Segundo a surfista carioca, o surf é um esporte que contribui muito para elevar sua autoestima, respiração, equilíbrio, sociabilidade e concentração, objetivo, prazer, competitividade, entre outras coisas que ela nunca pensou serem possíveis.
Maria Izabel faz questão de ressaltar a importância da Adaptsurf, ONG sem fins lucrativos que abriu as portas para toda essa descoberta. O projeto social promove a integração das pessoas à sociedade, garantindo igualdade, oportunidade e acesso ao lazer, esporte e cultura, por meio de contato direto com a natureza. A proposta é divulgar o surf adaptado para pessoas com deficiência, lutar pela preservação da natureza e por melhor acessibilidade nas praias.
No Brasil ainda há muito a se fazer pelo bem-estar da pessoa com deficiência e, quando o assunto é desenvolvimento do esporte, Bel Bebel afirma que é necessário mais investimento. A maior parte de recursos públicos vai para os esportes com maior visibilidade, como o futebol, vôlei e basquete, segundo ela e, mesmo que o atleta receba incentivos, como o Bolsa Atleta, e embora o Ministério do Esporte tenha vários programas educacionais de lazer e inclusão, o Estado, deveria investir nas escolas e universidades, dando mais apoio aos pequenos atletas e atletas deficientes, descobrindo novos talentos e os capacitando.
Para Bel Bebel o esporte é uma arte e a “integração da arte com o esporte fez com que a sociedade compreendesse que os deficientes também estão inseridos nessa realidade, nesse contexto”. E ela vai além: “A sólida representação e participação dos deficientes, não se resume ao campo esportivo. Ela também existe na moda, nas passarelas e em diferentes esferas da sociedade.
Pedro Muriel Bertolini
Revisão: Sílvio Carvalho
Comentarios