JARDIM DE PESSOAS
- Tendência Inclusiva
- 22 de abr. de 2018
- 2 min de leitura
Sempre fui apaixonada pelos livros do Rubem Alves. Li, uma determinada vez, em uma história que ele escreveu, não lembro em qual livro, sobre pessoas diferentes de forma em geral, incluindo os ditos com deficiência. A analogia que ele fez me marcou muito e até hoje me vejo fazendo a mesma comparação para as pessoas.
Não existe nada mais lindo que um jardim planejado, com todas as plantas previamente colocadas em cada lugar, um jardim lindo e bem cuidado. Mas ele falava que mais bonito ainda são as flores que nascem de lugares jamais imaginados, como nas pedras, em lugares inacessíveis e difíceis. São nesses lugares improváveis de surgirem uma vida é que nascem as belas flores selvagens. E nascem sem nenhum planejamento, às vezes a raiz a mostra ou torta.
Como isso serve para a nossa vida?
São as pessoas improváveis e subestimadas que muitas vezes mostram a beleza mais pura e única que existem. São em certas almas, que deveriam estar secas ou murchas, é que nasce a vida.
Li, nesses dias, na página "Brasileiras pelo Mundo", uma colunista falando de uma pessoa lendária e reverenciada no Canadá. Ele era um esportista, jogava basquete e cedo na vida descobriu estar com câncer. Teve uma perna amputada e decidiu correr pelo Canadá para angariar fundos para pesquisa sobre a doença, chamando atenção quanto ao assunto. O jovem, infelizmente, morreu mas até hoje ele é lembrado no Canadá, onde as corridas são praticadas até hoje, com o mesmo objetivo.
O que concluir desses dois exemplos citados, mas que poderia citar outros milhares?
Quando rotulamos alguém, quando dissemos que aquela pessoa tem a deficiência "xis" como se fosse seu próprio nome, tal como uma planta de jardim planejado, nos vangloriamos. Mas é justamente vindo da dificuldade dessa pessoa é que se revela uma personalidade encantadora, uma atitude mais positiva, uma solidariedade grande, uma grande empatia. São as belas flores selvagens nascidas dos lugares difíceis.
Tenho uma amiga médica, que mesmo não tendo nenhuma deficiência, possui uma empatia única com as pessoas, o que a torna uma excelente médica, no meu ponto de vista. Ela convive com um médico bipolar, que as pessoas ao redor reclamam das alterações de humor dele. Ela disse: tá, tem dia que ele está ruim, para baixo, só cumprimenta com a cabeça, fica quieto. Mas nos dias que ele se sente bem, é uma pessoa extremamente simpática, que gosta de conversar, super educada. Quem dera se todos tivessem essa empatia, hein? Mas o bipolar é um rótulo nas pessoas: "Fulano está mudando de humor o tempo todo, parece bipolar", sendo bipolar uma característica ruim para se rotular, tem sentido depreciativo. E quando o fulano é mesmo bipolar, as pessoas simplesmente se afastam...
Que tal um pouco de empatia?
Nos surpreenderia ver o que as flores que nascem dos lugares difíceis tem a nos dizer das dificuldades da vida...


Lígia Ríspoli D'Agostini é formada em Jornalismo, tendo pós-graduações em Communication Brand e Comércio Exterior. Atualmente é estudante de Direito e autora de poesias do livro "Variáveis sobre um mesmo tema-uma viagem pela alma. É também possui surdez moderada em ambos ouvidos, tendo que usar aparelhos. Ela espera, com o Tendência Inclusiva, contar alguns casos sobre "viver na pele" a deficiência auditiva.
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