PROVA DO ENEM
- Tendência Inclusiva
- 7 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
A minha grata surpresa desse ano foi a prova de redação do Enem, que pediu para abordar a igualdade nos estudos dos surdos. Isso apenas comprovou que estou em um bom caminho ao abordar sobre surdez. Tem muitos assuntos que gosto de escrever, mas, cansada de uma sociedade que só prega o "ganhar dinheiro" a todo custo, como se fosse uma competição individual, cansei um pouco. Gosto de escrever sobre tudo, mas, sem querer, descobri o site da Tendência Inclusiva. Quando vi, estava acessando todos os dias, lendo as matérias. E achei tão bonito um espaço de inclusão social, que não perdi tempo para me candidatar a escrever. Achei que, para variar um pouco, ao invés de visibilidade pessoal, estava faltando visibilidade dos surdos. É tão forte essa questão que amigos meus mais próximos não me reconhecem como "deficiente". Tenho apenas um pouco de dificuldade de escutar, mas "deficiente" jamais. Para se ver o estigma carregado pela palavra "deficiente".
Eu gostaria de ter feito essa prova. Estudei no meu curso de Direito no sobre uma nova Convenção que foi determinada a partir de janeiro de ano passado que não é o deficiente que tem que ser incluído na sociedade, mas a sociedade é que deve adaptar-se à pessoa. Bonito, né? Parece utópico, mas ainda assim é bonito e interessante. O MEC mostrou estar atento à questão da inclusão social do deficiente. Dizem, não li, mas dizem que teve professor reclamando do tema, no sentido de que saiu fora do que esperavam do que foi abordado. Pois, sinto muitíssimo por esses professores, que ainda não perceberam a importância da sociedade se adaptar a quem é considerado deficiente. E esse tema não é uma Atualidade: é a realidade mesmo.
Subjetivamente analisando, o deficiente não tem que fazer esforços dobrados para se encaixar nos preceitos sociais. Vou dar um exemplo prático que vivenciei: no meu serviço, uma pessoa com deficiência auditiva maior do que a minha foi comigo olhar um aparelho telefônico adaptado para o nosso caso. Para mim deu super certo, mas a minha companheira, via-se claramente, estava fazendo um esforço sobrehumano para escutar. Fiz questão de fazer essa observação ao órgão responsável pela nossa adaptação, não sei se acataram. A minha sugestão era que, ao invés dessa garota fazer esse esforço enorme para escutar, que fosse avisado no ambiente em que ela trabalha, que ela só pode responder as dúvidas, por exemplo, por e-mail. Ou seja, esse é o contexto da sociedade se adaptando, porque vendo ela fazendo esse esforço sobrehumano para escutar, foi, no mínimo, cruel. Quase como pedir a alguém sem os braços que digitasse tão rápido quanto uma pessoa dotada de braços. É um pouco incoerente. Essa minha crítica não é, de forma alguma, querendo desmerecer o trabalho bonito que se faz para tentar nos incluir. Mas nota-se a dificuldade de entender o outro até mesmo por entidades especializadas. E, por isso, fantástico o tema de redação do Enem: obrigar os estudantes a enxergarem o "outro", o diferente.


Lígia Ríspoli D'Agostini é formada em Jornalismo, tendo pós-graduações em Communication Brand e Comércio Exterior. Atualmente é estudante de Direito e autora de poesias do livro "Variáveis sobre um mesmo tema-uma viagem pela alma. É também possui surdez moderada em ambos ouvidos, tendo que usar aparelhos. Ela espera, com o Tendência Inclusiva, contar alguns casos sobre "viver na pele" a deficiência auditiva.
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