PERFUME DE MULHER
- Tendência Inclusiva
- 2 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
Não me lembro exatamente como surgiu a conversa, mas sei que foi em um treinamento no meu serviço. O orientador comentou sobre "deficiências " e do que os "deficientes" são capazes. Todos ficaram surpresos quando se falou em cego que dança. Achei graça, pois quem viu o filme lindo e maravilhoso "Perfume de Mulher" com o Al Pacino, não se surpreende com este fato. Mas comentei por alto com umas colegas que até eu tendo deficiência auditiva também adorava dançar, e uma delas, sem entender, pediu-me desculpas. Ainda não entendi a desculpa do que, pois era algo que ela ignorava e é um conhecimento adquirido positivo.
Mas... como eu danço? Bem, antes de responder a essa pergunta, volto à infância de quando, animada para fazer violão (e um violão era caríssimo na época), o professor já rejeitou de cara, dizendo que se eu não conseguia ouvir as notas, seria impossível que eu aprendesse. E isso virou uma verdade na minha vida em relação à música. O que era frustrante, pois meu irmão tocava flauta doce divinamente bem, minha mãe é pianista de ter aprendido por oito anos em conservatório e meu pai adora cantar. Frustrante, muito frustrante.
Mas... nessas voltas que o mundo dá, conheci pela internet uma pessoa que tinha deficiência parecida com a minha e...era um exímio tocador de violão. Aí eu pensei: "Ué". Mas, mais impressionante ainda foi em um show de "Got A Talent ", desses compartilhados pelo facebook, uma garota completamente surda se propôs a cantar. "Ué....?" Ela sempre estudara música e foi acometida por uma doença de perda degenerativa de audição até ficar completamente surda. Eu pensei: "qualquer som que essa menina consiga fazer será um milagre." Não, ela não fez qualquer som. Ela cantou melhor do que muitas cantoras profissionais. Como se diz, "arrebentou a boca do balão." Para conseguir "escutar" o som para acompanhar, ela ficava descalça para sentir as vibrações.
Para ver o episódio:
Aí, voltemos à questão de como danço. Não "escuto" bem com os ouvidos, mas posso "escutar" com o corpo. Tal como a garota, sinto as vibrações da música também. Além disso, existe o movimento do corpo do parceiro, que vai ritmando as minhas passadas. Claro, muitas vezes erro e preciso de um pouco de paciência por parte do parceiro. E também não sou nenhuma profissional. Mas poderia, se quisesse e esforçasse.
Bem. Moral da história: está na minha lista de mil e uma coisas que farei antes de morrer: cantar. E quem sabe, aprender o violão!

Lígia Ríspoli D'Agostini é formada em Jornalismo, tendo pós-graduações em Communication Brand e Comércio Exterior. Atualmente é estudante de Direito e autora de poesias do livro "Variáveis sobre um mesmo tema-uma viagem pela alma. É também possui surdez moderada em ambos ouvidos, tendo que usar aparelhos. Ela espera, com o Tendência Inclusiva, contar alguns casos sobre "viver na pele" a deficiência auditiva.
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