PIADAS PRONTAS PARA QUEM NÃO OUVE BEM!
- Tendência Inclusiva
- 18 de out. de 2017
- 3 min de leitura
Essa é da série que ocorre somente com quem tem muita dificuldade em ouvir.
Um dia saí com meus amigos em uma boate, naturalmente barulhenta e com uma roda de pessoas, aí que escutar chega a quase zero.
"Por que não coloca o aparelho?" O aparelho jamais supre cem por cento da perda. Na verdade, ele funciona como um amplificador. Isso quer dizer que meus amigos conversando, a música e outros barulhos ficam competindo entre si, porque a função de "isolar" alguns sons (ouvir melhor meus amigos do que o som que toca) é função do cérebro e isso o aparelho não consegue fazer. Então, com aparelho, em um ambiente desses, a sensação é mesmo que os tímpanos irão explodir. E, no fundo, tanto faz, ninguém escuta ninguém em um ambiente desses.
Estávamos em roda e meu amigo quis comentar sobre uma pessoa que raramente viámos em baladas. Era uma pessoa com nanismo. Eu, como disse, nunca me enxerguei com deficiência e também não prestava atenção nas deficiências dos demais. Enfim, todo mundo olhou na direção dele, enquanto eu, que não escutara nadica de nada, olhei primeiramente para cima. Meu amigo não perdeu tempo: "Não, Lígia, o anão não está no lustre." Pronto. Piada pronta da turma. Toda vez que saímos meu amigo tem que comentar a história do anão no lustre.
E nem adianta tentar explicar que não tinha escutado nada. Virou mesmo piada pronta. Isso é da série de quem não escuta bem. Mas houve evoluções.
Antigamente, tinha uma propaganda de uma mulher que falava: "Para quem escuta bem, mas não entende bem as palavras. Audissom." Alguém se lembra disso? Eu não esqueço! Toda vez que eu não escutava, meu irmão repetia o que a mulher dizia. Por muitos anos, essa propaganda foi uma praga para mim.
Os animais não sabem o que o ser humano fala, mas ele é capaz de identificar o que pode ser só pelo tom de voz e expressão corporal. Com um surdo não é diferente. Detecto de longe quem está fofocando e se está ou não falando de mim (os olhos teimam em olhar para todo lugar, menos para mim, mas não consegue, então ficam irriquietos.) Detecto muitas coisas por tom de voz e leitura labial, motivo pelo qual muita gente se surpreende que na verdade eu seja deficiente auditiva. E, como muitas vezes não escuto, mas pelo tom já imagino, saio concordando ou discordando.
Claro que nem sempre dá certo, o que é fonte de muitos desentendimentos. ("Mas naquela hora você tinha concordado comigo.") E a gente fica é com "carão" mesmo. E quando alguém te dá uma notícia triste e você mete um sorriso? Vexame total.
Certos detalhes, as pessoas atribuem à nossa personalidade, o que na verdade, era somente a deficiência auditiva. O segredo para não ter muitos problemas é empatia de ambas as partes. Minha mãe sempre reclama que só ouço o que estou afim. É verdade. Não escuto o que ela está falando, mas pelo tom já sei que é encrenca e saio de fininho.


Lígia Ríspoli D'Agostini é formada em Jornalismo, tendo pós-graduações em Communication Brand e Comércio Exterior. Atualmente é estudante de Direito e autora de poesias do livro "Variáveis sobre um mesmo tema-uma viagem pela alma. É também possui surdez moderada em ambos ouvidos, tendo que usar aparelhos. Ela espera, com o Tendência Inclusiva, contar alguns casos sobre "viver na pele" a deficiência auditiva.
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