A MULHER QUE ELA QUER SER.
- Tendência Inclusiva
- 17 de ago. de 2017
- 2 min de leitura
Assistindo a um programa de culinária com Sophia, minha filha de 11 anos. Quatro ex-atletas mostram seus dotes culinários.
Falo sobre um deles, campeoníssimo de saltos ornamentais, medalhista olímpico diversas vezes.
Passo então para o jogador de basquete, um dos mais durões da história da NBA, agora ali, fazendo um prato delicado.
Chego em seguida a uma mulher, Jackie Joyner-Kersee, uma das maiores atletas de todos os tempos, ícone do heptatlo.
Sophia pela primeira vez demonstra um interesse mais agudo e pede: “posso ver um vídeo dela correndo?”.
Foi quando acendeu uma luz. Não havia ficado claro para mim ainda, mas Sophia busca fortemente referências femininas nas coisas que ama. Começo a pensar na questão musical. Claro que ela gosta de artistas homens e mulheres, mas prefere o pop ao rock.
Eu, pai roqueiro, ficava incomodado com esse gosto musical diferente do meu e, após o acontecido no programa de culinária, resolvo perguntar porque ela não curte rock and roll.
A resposta vem direta: “porque não tem mulher”.
Tem, é claro, mas muito pouco se comparado a outros gêneros. Vou buscando na memória e penso em como Sophia era fã da Jacqueline do vôlei e de como adorou ir ao estádio uma vez e depois desistiu (ok, isso pode ser porque eu parei de acompanhar futebol também).
Lembrei-me de como Sophia nunca curtiu filmes de heróis, mas pediu para ver a Mulher Maravilha. Foi, curtiu muitíssimo e depois não teve o menor interesse em assistir Homem Aranha.
Descobri que falhei nesse sentido. Me preocupei muito em mostrar o que eu curtia sem entender que essas coisas têm um peso para mim também por serem referências masculinas e não apenas porque são “boas”.
Sophia precisa de outros ícones, que façam mais sentido para quem ela é hoje e para a mulher que ela quer ser no futuro. Cientistas, líderes, empresárias, atletas, artistas, tudo o que possa ajudá-la a crescer e se valorizar como mulher em uma sociedade permeada por ícones e referências masculinas.
Um abrir de olhos, um alerta a um pai cheio de boas intenções, mas que precisa ainda abrir sua visão de mundo a partir dos olhos de uma garota.
Ainda bem que ela existe na minha vida.


Maurilo Andreas é escritor formado em publicidade, envolvido em projetos sociais e culturais, e um aprendiz da tolerância e do respeito com um longo caminho pela frente.
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