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TERRA DE ESCRAVOS

  • Foto do escritor: Tendência Inclusiva
    Tendência Inclusiva
  • 11 de ago. de 2017
  • 2 min de leitura

Ontem, na metade do caminho para casa, decidi chamar um carro num desses aplicativos de transporte. O serviço, que geralmente demora mais de dez minutos para atender, desta vez foi rápido. Em menos de três minutos chegava ele, o Seu Judas.

Agitado, não sabia se empurrava o banco ou se levantava para abrir a porta para que eu entrasse. Pedi que se acalmasse e permanecesse sentado até que eu me acomodasse no veículo. Normalmente, nesse horário não estou com o melhor dos humores. Dificilmente esboço um sorriso no rosto depois de passar tantas horas na correria louca da vida urbana.

O senhor tentou puxar um assunto, mas não teve muito sucesso. Respondi balançando a cabeça em sinal de concordância, balbuciando um desinteressado A-H-A-M. Depois, ele usou outra estratégia para chamar minha atenção e, aos poucos, embora ainda meio carrancudo fui abrindo a guarda. Passados os primeiros gélidos minutos de nossa prosa, fui percebendo que aquele homem tinha muitos assuntos a serem compartilhados.

Nascido em Pernambuco, filho único de mãe bem velhinha – ainda viva -, veio para São Paulo tentar a vida ao lado de sua esposa. Hoje, trabalha como zelador num prédio bacana da cidade durante o dia e à noite dirige para complementar a renda. Disse ele que Pernambuco, onde morava “é que é terra boa”. Lá, as pessoas se ajudam. Se abraçam. Acolhem-se umas às outras. O único problema é que tem pouco emprego.

Mesmo assim tem uma coisa: lá as pessoas se viram como podem, e são felizes. Aos pouquinhos conseguem conquistar suas coisas. Sua mãe, por exemplo, tem uma casa boa na cidade e um sítio enorme no interior. Ele, coitado, não tem nada. Vive na cidade grande, há anos, e mal consegue pagar seu aluguel.

Para ele uma única coisa define a cidade de São Paulo: terra de escravos.


imagem retirada da internet


Sílvio Cesar Carvalho

Sílvio Cesar Carvalho é aquele tipo de cara que não gosta de rótulos. Como o mundo anda muito louco, às vezes acorda uma coisa, às vezes, outra. Às vezes príncipe, às vezes sapo. E às vezes, nem príncipe, nem Sapo. Mas, o mais importante, é que ele vive assim, plantando ternura pra colher sorrisos.


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