"We Can Do It!"
- Tendência Inclusiva
- 8 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943.
We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) é a legenda de uma das imagens mais conhecidas do movimento feminista. Foi bastante usada a partir do início dos anos 80 do século passado para divulgar o feminismo, desde então várias releituras foram sendo feitas da imagem da moça trabalhadora, usando um lenço na cabeça, arregaçando as mangas, mostrando um musculoso bíceps e passando a ideia de que "sim, nós mulheres podemos fazer isso!" (sendo este "isso" as atividades tradicionalmente convencionadas aos homens*) ao mesmo tempo em que se desconstrói a ideia machista de "mulher sexo frágil".
Contudo, o que muitas pessoas não sabem é que a imagem foi criada algumas décadas antes, em 1943, e que não tinha nenhuma ligação com a divulgação do feminismo. We Can Do It! originalmente foi um cartaz idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos, criada por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse Electric Corporation, com o objetivo de incentivar as mulheres americanas trabalhadoras durante a Segunda Guerra Mundial, isto é, para atraí-las ao trabalho extra-doméstico durante a guerra.
Historicamente podemos notar que somente em períodos de guerra a ideologia que diferencia papéis de gênero é ligeiramente desativada, e isto em prol de benefícios econômicos das sociedades, ou seja, passa-se a não se diferenciar "trabalho de homem x trabalho de mulher" para se atender a interesses financeiros e de guerra.
A mão de obra feminina na esfera extra-doméstica, tradicionalmente vista como suplementar ao trabalho masculino, é fortemente valorizada durante os períodos de guerra, nos quais os homens têm que ser liberados de seus postos para morrer na guerra ou, se assim preferirem, ir aos combates, liderar os campos de batalha.
Historicamente, a maior participação feminina na esfera extra-doméstica, isto é, fora do lar, é durante as guerras. Fato que ocorreu inclusive nas duas grandes guerras mundiais.

Mulheres trabalhando na construção de um porta-aviões. Fotografia: Margaret Bourke-White — Time & Life Pictures/Getty Images
É então para atender a esses interesses (de estabilidade econômica e de esforço de guerra) que o cartaz feito por J. Howard Miller surgiu, para incentivar o trabalho feminino durante a guerra, fazendo com que as mulheres, sobretudo as de classes sociais mais favorecidas (mulheres trabalhadoras, de classes sociais desprivilegiadas, sempre existiram em todas as sociedades) antes limitadas aos trabalhos domésticos vissem que elas também podiam assumir a liderança em cargos ou áreas antes dominadas somente por homens.
A mulher da imagem é uma personagem fictícia de nome Rosie the Riveter (Rosie, a Rebitadeira), vista como um modelo de trabalhadora ideal: leal, eficiente, patriota e bonita. A expressão Rosie the Riveter foi popularizada em uma canção (ver vídeo) de mesmo nome, em 1942, um ano antes da criação do cartaz. A personagem Rosie é inspirada na fotografia de uma operária-modelo estadunidense, ícone da mulher trabalhadora durante a Segunda Guerra Mundial, Geraldine Doyle.
Porém, o cartaz foi pouco visto durante a guerra, e somente décadas depois, já no pós-guerra, ele foi reapropriado pelo movimento feminista de Segunda Onda, para promover o empoderamento feminino e divulgar o movimento e desde então foi amplamente divulgado, tendo se tornado selo postal dos EUA e sido amplamente usado em campanhas pelos direitos das mulheres.
Geraldine Doyle, em 2002, disse ao "Lansing State Journal" que somente em 1984, quatro décadas depois da criação do cartaz, ela havia se dado conta de que a moça-personagem da propaganda de guerra, feita por Miller, havia sido inspirada nela. Doyle morreu no dia 26 de dezembro de 2010, em Lansing, Michigan, aos 86 anos de idade.
Doyle pode até ter custado a reconhecer seu rosto no cartaz, mas a mensagem transmitida por ele, com certeza, ela logo deve ter percebido, pois ela sabia que sim, nós mulheres podemos, pois se tem uma coisa que a gente pode é poder.
Texto extraído do site: http://diariosdeumafeminista.blogspot.com.br
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