QUANDO ATROPELEI O TEMPO...
- Tendência Inclusiva
- 29 de dez. de 2016
- 2 min de leitura
Beatriz vai fazer um ano.
"Tenho que preparar uma linda festa", avisa a razão ao coração que parecia surdo.
Um ano de vitória, um ano de lutas vencidas, um ano de vida! Isto tem que ser comemorado em grande estilo, coração! Porque insiste em não sugerir um tema para a festa?
Ah! Bonequinha Preta! Está resolvido. Vamos transformar as palavras da escritora Alaide Lisboa em arte e te fazer sorrir, coração!
Logo vão surgindo os pirulitos de trancinha, as bonecas de pano, o tabuleiro de verdura, os balões, as toalhas. A roupa nova da menina, da mãe da menina, da irmã da menina. Tudo pronto, chamo minha mãe para ver e aprovar, claro.
Ela, um pouco assustada, com um sorriso no canto da boca, diz que está tudo lindo e me pergunta onde consegui balões pretos. Nunca tinha visto.
- Em São Paulo, respondo secamente.
- Na história as verduras do tabuleiro não eram verdes?
- Eram, mãe, mas você concorda que repolho roxo, beterraba, jabuticaba e acaí são mais originais e modernos?
- Gostei dos doces, ela diz. Cajuzinho, pé-de-moleque, brigadeiro são deliciosos, mas porque não fez quindim?
- Porque não gosto de amarelo.
Beatriz nasceu dia 12 de maio. Mamãe, sempre espirituosa e um pouco sarcástica me lembra de que estou também homenageando Princesa Isabel e a Lei Áurea. Prefiro não responder.
Começa a festa. Um amigo me diz: "Nossa! Vocês três juntas me lembram uma foto clássica de Jacqueline Kennedy e seus filhos..." Só porque nossas roupas eram pretas. Coisa boba.
E assim, foi a festa de um ano feliz.
Levou tempo para que eu enxergasse o que todo mundo viu de imediato. O coração não estava pronto. A razão insistiu. Não entendeu que ele ainda carregava dores, cortes profundos e lembranças ainda não cicatrizadas. O coracão desobedecido, enlutou.
Cinco anos depois, coração e razão em perfeita sintonia, a menina ganha festa colorida da cor da alegria!


Odette Castro é designer de festas, mãe de Laura publicitária com 32 anos de idade e Beatriz com 28 anos que tem Síndrome Rubistein Taybi. Autora do livro Rubi, onde conta o cotidiano com as filhas e divulga a inclusão através das palavras em sua página FALE CERTO no facebook.
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