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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS!

  • Foto do escritor: Tendência Inclusiva
    Tendência Inclusiva
  • 29 de jul. de 2016
  • 6 min de leitura

A prática narrativa é uma arte muita antiga. Mesmo antes do surgimento da escrita, as pessoas já se comunicavam por meio das palavras. Com a evolução tecnológica, a oralidade foi dando lugar ao texto. Tal mudança trouxe alguns aspectos positivos e negativos para a humanidade. A difusão da informação, sem dúvidas, é muito positiva, já o esfriamento das relações é considerado um dos grandes pontos de tensão. Nos últimos anos, no entanto, um grupo de pessoas vem se movimentando para trazer a prática narrativa de volta.

Heidi Monezzi é formada em Artes Cênicas pela Unicamp e é especializada em Contação de Histórias pela Faculdade de Conchas, FACON. Atua desde os 12 anos e ingressou na arte narrativa com a Cia Nóis na Mala, grupo que desenvolve um importante trabalho de pesquisa em Contação de Histórias. Há 3 anos realiza um trabalho voltado para crianças de uma escola de Educação Infantil. A cada semana ela se apresenta para um grupo de diferentes idades, que vão dos 0 a 1 ano e meio, 1 e meio a 2 e meio, chegando aos 6 anos.

"Eu escolho a história, toco instrumentos, dependendo da idade da criança levo dedoches e outros objetos. Comecei experimentando, pois não existem muitos estudos. O que sabemos é que a atividade de contar histórias cria um vínculo emocional com o bebê. Ele pode se desenvolver, desenvolver a linguagem, desenvolver habilidades espaciais e cognitivas. Sem contar a relação com a música que é muito benéfica. Nesta experimentação tive experiências muito emocionantes", revela.


imagem retirada da internet

Heidi conta que no início as crianças ficavam encantadas com o figurino, que é todo colorido. Para adentrar o universo infantil é necessário suavidade. "Respeitar a criança é importante. É necessário ter calma e passar tranquilidade para o bebê. É um lugar de experimentação para mim e para eles também. Eles também me experimentam. Adaptar as histórias é importante. Para os bebês tudo tem que ser ser sutil", explica. Emocionada, Heide relembra uma experiência vivida em uma narrativa. "Contei uma história para eles e tive uma das experiências mais incríveis da minha vida. Cantei uma canção e percebi que um bebê foi se envolvendo. Algo o tocou e ele olhava pra mim, emocionado. Fiquei me perguntando. Meu Deus, o que faço com isso? Será que é positivo, será que não é? Acredito que sim. Ele está se experimentando nessa vida. O viver é se experimentar, e isso faz com ele carregue o máximo de experiências positivas, criando recursos emocionais que os ajudarão a lidar com o futuro", explica a contadora. Os bebês ainda não têm a oralidade desenvolvida, mas têm a escuta e a atenção. “Quando terminei a história e cantei a música final o bebê chorava muito e queria vir no colo. Peguei-o em meus braços e disse: - Você está sentindo emoção, que bom que você é sensível, vai dar tudo certo. Amo você. Foi um momento muito bonito", comenta

Heidi Monezzi e os bebês - Foto: acervo do entrevistado

Para os maiores, as narrativas ajudam a ampliar o repertório cultural. “Em muitas histórias até eu me surpreendo. Atividades artísticas ampliam tudo, relação com espaço, com o outro, aumenta a interatividade das crianças e ensina a respeitar o espaço do outro coleguinha", comenta Heidi.

A importância de ler para uma criança


Cristiane Rogerio - Foto: acervo do entrevistado

Quando falamos de atividades culturais para bebês temos que nos voltar completamente para a criança. A afirmação da jornalista, educadora e coordenadora da pós-graduação O livro para a Infância, ministrado na Casa Tombada, Cristiane Rogerio parece óbvia, mas não é. Como conseguir entreter pequenos seres que têm um mundo tão particular, tão único? "Já ouvi vários relatos de educadores e berçaristas que simplesmente não sabiam o que fazer para prender a atenção deles". Quando se pretende ler para crianças de 0 a 3 anos, ou quando se conta uma história ou se apresenta uma performance teatral, o mediador deve estar ciente de que ele está num grupo que está descobrindo as coisas. “Vai ter tudo ali, vai ter criança engatinhando, andando berrando e isso é algo normal. Ao contrário do que se possa imaginar, no caso da mediação de leitura para bebês, que obviamente não são alfabetizados, o livro é um objeto muito importante. A primeira coisa com que o bebê se relaciona é com o objeto, com a materialidade do livro, as formas, as cores. Ela tem que tocá-lo", explica Cris. A jornalista nos revela ainda que outra coisa importante ao se ler para uma criança é que o leitor deve gostar da história que está lendo para que a criança sinta que há uma relação de afeto entre o narrador e o texto narrado. Só assim ela vai ter prazer em ouvir. “As crianças estão muito envolvidas com as reações dos adultos, por isso elas riem quando você faz uma careta, muda a entonação da voz ou faz algo inusitado”. Cuidado para não infantilizar a leitura. "Tem que ficar divertido. O bebezinho vai rir com você fazendo graça e isso não quer dizer que a história tem que ficar boba”, orienta Cristiane. "Caso você tente ler uma história para seu filho e se sinta frustrada por não conseguir terminar, não se preocupe. "O mais importante nem sempre é chegar ao final do livro e, sim, o que está acontecendo na hora. Às vezes, a criança quer ver mil vezes o mesmo coelho, ou quer voltar várias vezes para o começo. Sim, isso é trabalhoso. É como a alimentação. Se você oferecer brócolis uma vez e ela dizer não e você não insistir, qual a chance dela gostar daquilo”?, questiona.


imagem retirada da internet

Cristiane Rogerio também é criadora do site Esconderijos do Tempo. Acesse: (http://esconderijos.com.br/)


imagem retirada da internet

O teatro para bebês

Letícia Liesenfeld é coordenadora e professora da pós-graduação A Arte de Contar Histórias. Formada em teatro, faz um trabalho coreográfico para bebês. Recentemente esteve na França onde participou do Cou Cou, montagem teatral voltada para bebês. O espetáculo é de extrema sensibilidade e necessita de muito cuidado para acontecer. "A relação com o bebê é muito especial e muito diferente. Evitamos chamar sua atenção. Usamos objetos simples em cena. O que mais importa é a relação que o corpo pode estabelecer em primeiro lugar com o bebê, pois ele, mais do que um adulto, sente nossa presença de uma forma, que digo que é quase uma esponja. Se você está perturbado ou nervoso o bebê sente isso diretamente!", explica Letícia.


6º FITA Floripa COU-COU

O bebê tem uma atenção flutuante, com capacidade de concentração feita de ciclos curtos, Isso não quer que ele não se concentre. Ele se concentra muito, mesmo que se mexa. Qualquer pequeno detalhe, como uma unha pintada de preto, por exemplo, pode chamar sua atenção. Um dos princípios mais importantes é criar pequenos ciclos de acontecimentos cênicos redondos, que tenham início e fim. Qualquer mudança na trama deve ser feita de forma completamente limpa, sem nenhuma relação com o ato anterior. Essa mudança tem que ser muito clara para que o bebê não se sinta perdido. Textos para bebês geralmente são simples e usam interjeições, como ah, ahn e ali, que são palavras que já fazem parte do universo do bebê. O Cou Cou é feito para crianças muito pequenas, de 6 meses a 3 anos. Para cada idade o texto é adaptado.

Letícia aponta a respiração com algo fundamental, pois estabelece “um pacto de confiança entre o bebê e os pais ou alguém que pegá-lo no colo. A coisa mais íntima que a gente pode trocar com alguém é a respiração. Por isso é tão íntimo dormir com outra pessoa, porque a gente regula nossa respiração com ela. Se o bebê ouve a minha respiração, ele encontra uma conexão especial”.


Letícia Liesenfeld - Foto: Cristiano Prim

Bebês de 0 a 3 anos estão numa fase da vida muito importante. Quase tudo que acontece em suas vidas é extremamente relevante. O Cou Cou trabalha a relação de término, de abandono de algumas coisas. "A grande tragédia que o bebê vive é quando o pai sai do seu campo de visão. Ele não consegue compreender, por exemplo, que o pai saiu para trabalhar e volta em breve. Para ele, o pai simplesmente desapareceu, como que por um toque de mágica. Assim, o bebê vivencia sucessivos desaparecimentos e reaparecimentos de coisas e pessoas o tempo todo. Isso pode causar grande ansiedade no bebê", explica a atriz. O espetáculo ajuda a dar segurança ao que bebê. Coisas desaparecem, reaparecem e está tudo bem. O Cou Cou, que significa aparecer e desaparecer, não é um espetáculo suave. O bebê vive, junto com a atriz, várias experiências de ruptura. É um trabalho que valoriza o detalhe e a capacidade de percepção dos pequenos. Durante 25 minutos eles ficam extremamente concentrados no colo dos pais. Ao contrário do que pensamos os bebês não são influenciáveis como o adulto. "Eles são capazes de manter a concentração mesmo tendo um amiguinho do lado aos berros. Podem até olhar para o lado, mas se o interesse deles estiver em outra coisa, simplesmente voltam ao foco. A partir dos 4 anos a criança começa a perder essa capacidade". Letícia conta que a experiência de trabalhar com este público é muito revigorante. "O bebê não faz joguinhos e não tem julgamentos”, revela.


Sílvio Carvalho é Formado em Tradução e Interpretação pelo Centro Universitário Ibero-Americano de São Paulo - SP. Tem curso de Pós- Graduação em Contação de Histórias. Trabalhou com mídias digitais e jornalismo digital na Editora Abril. Está lançando seu primerio livro, voltado ao público infantil. Não se considera um escritor. Sua grande paixão é contar as histórias das pessoas.

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